Posição Maniaca em Melanie Klein
Defesas Maníacas e/ou Posição Maníaca em Melanie Klein¹
Mariane Rohenkohl - Psicóloga²
A partir do estudo das relações objetais descritas por Thomas Ogden, mais especificamente da posição Depressiva, surgiu a necessidade do aprofundamento do tema pela visão de Jean- Michel Petot descrita no Livro Melanie Klein volume II. No estudo de Jean-Michel Petot, vimos o entendimento da posição Maníaca, termo mais conhecido para as posições Esquizoparanóide e Depressiva. O estudo desse conceito se mostrou muito importante no atendimento clínico diário, de pacientes maníacos, bipolares, obesos mórbidos, dependentes químicos, borderline e psicóticos,bem como no entendimento do desenvolvimento normal.
Primeiramente vamos rever o conceito de posição. Segundo Elisabeth Rudinesco (1998), Melanie Klein rejeitou a palavra inglesa phase (estádio|fase|) desde seus primeiros trabalhos, em favor da palavra posição. A palavra fase pressupõe um começo, um fim e uma suspensão definitiva do estado descrito, já a palavra posição coloca que o estado intervém num dado momento da existência do sujeito, num estágio preciso do desenvolvimento, podendo repetir-se depois em certas etapas da vida.
O termo posição exprime para mim a ideia de movimento, onde a criança muda de atitude ou desloca sua posição quanto a sua relação com o objeto, ou seja , ela se posiciona de diferentes formas frente aos objetos interno ou externos, em momentos diferentes do seu desenvolvimento, podendo voltar a posições anteriores.
Em 1934, durante a conferência intitulada de “Uma contribuição à Psicogênese dos Estados Maníacos-depressivos”, Melanie introduz o conceito de posição Depressiva e ao mesmo tempo o conceito de objeto bom e objeto mau. Seus estudos estavam baseados nos estudos de Freud sobre Luto e Melancolia , e nos de Karl Abraham sobre Depressão Primária, e sobre os Estados Maníacos e Depressivos. Na mesma época em que lança estes conceitos psicanalíticos que a introduziram no estudo mais aprofundado das psicoses, Melanie vivenciava o luto pela perda de um filho.
A posição Depressiva faz uma analogia entre o desenvolvimento normal da criança com os estados de depressão. Na fase de desenvolvimento correspondente aos 4 meses idade, a criança introjeta no Eu um objeto suficientemente bom para superar o estado persecutório próprio da perda da mãe como objeto parcial. A psicose seria oriunda da dificuldade da criança em ver a mãe como um objeto total, ou ainda de fazer uso da clivagem dela em objetos bom e mau. A criança, caso consiga superar esse estado de destruição do Eu pela resolução da posição depressiva , se fixaria na neurose ao invés da psicose.
Em 1946, Klein adota de Ronald Fairbain o termo de posição Esquizoparanóide para descrever a clivagem original do Eu, passando da teoria do Eu para a psicologia do Self, ampliando assim os conceitos da Clínica Psicanalítica. Destaca a coexistência na posição Esquizoparanóide de uma clivagem esquizofrênica e de uma angústia persecutória.
Segundo Ogden (2017) , a posição Esquizoparanóide é um modo gerador de experiência impessoal e automático:
“ Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self por meio da identificação projetiva…...é um estado não reflexivo do ser; os pensamentos e sentimentos do sujeito são eventos que meramente ocorrem.”(p 78)
Essa posição Esquizoparanóide não é abandonada na posição Depressiva. O pensamento de Melanie sempre é dialético, entre o bem e o mal, entre a posição Esquizoparanóide e a posição Depressiva. Esse relacionamento entre as duas posições onde cada qual cria, preserva e nega o outro, ocorre da mesma forma como se percebe no pensamento Freudiano os conceitos de mente consciente e inconsciente.
Após o primeiro trimestre de vida, a criança começa a funcionar no modo da posição Depressiva, em algum grau. Esse modo permanece em desenvolvimento contínuo ao longo de toda a vida, e simultaneamente ocorre a operação do modo da posição Esquizoparanóide.
Os fatores maturacionais que ocorrem no desenvolvimento da criança a partir do quarto mês de vida, diminuem a intensidade do instinto, havendo um desdobramento das capacidades cognitivas, estabilizando a capacidade do teste de realidade e a memória. Isso associado à experiência com um objeto bom, permite a integração dos objetos parciais da posição Esquizoparanóide. Propiciam ao bebê o aumento da capacidade de vinculação e de amar, diminuindo o medo dos objetos maus. Ou seja, essa diminuição do medo dos objetos maus faz com que eles não precisem mais ser expulsos violentamente pela projeção e pela identificação projetiva. Consequentemente, os objetos bons e ruins não precisam mais ficar separados.
O medo da perda do objeto vivenciado como inteiro e independente, provoca uma ansiedade depressiva, que desperta um fenômeno intermediário que incorpora elementos da organização psíquica das duas posições, a Esquizoparanóide e a Depressiva. Como características da posição Esquizoparanóide podemos citar a clivagem, a negação, a projeção, a introjeção,a idealização, a identificação projetiva e o pensamento onipotente.
Para Melanie Klein (1935) as formas que as defesas assumem combinam tanto elementos externos internalizados ou submetidos a tentativas de controle, quanto aos elementos pulsionais.
No momento que a criança começa a consolidar a organização psicológica da posição Depressiva, as defesas maníacas fazem parte das defesas utilizadas pelo ego para lidar com a ansiedade.
Em Melanie Klein (1935) as ansiedades pertinentes ao ego conhecidas como do temor a talião, são paranóides, e as que revelam a presença da preocupação com o objeto, são as ansiedades depressivas. Segunda a autora, o ingresso na fase Depressiva coincide com o apogeu do sadismo na criança, fazendo com que as manifestações de compaixão e empatia entrelaçam-se com os ataques imaginários mais cruéis.
A ansiedade só é depressiva quando o ego reconhece que a fonte de destruição está nele mesmo, sendo intencional, ou seja, seu próprio ódio é que ameaça o objeto. Para Jean-Michel Petot (1992) “ A ilusão da inocência é incompatível com a posição depressiva”.(p.9)
A culpa seria originária do aprofundamento da consciência da realidade psíquica ambivalente. Através da identificação empática com o objeto odiado e atacado, a criança suscita compaixão, remorso, arrependimento e o desejo de reparação. Nessa reparação repousam o amor e a sublimação.
Thomas Ogden (2018) coloca que a instabilidade na posição depressiva (onde ocorre a integração dos objetos bons e ruins) , faz com que a criança frequentemente utilize uma forma de defesa chamada de processo ou defesa Maníaca. No processo Maníaco, o sujeito regride a um estado do ser no qual a subjetividade, a historicidade, a experiência de realidade psíquica, a capacidade de formação simbólica madura, se encontram muito comprometidas.
Segundo Klein (1935), a defesa maníaca envolve a negação do indivíduo acerca da sua dependência de outras pessoas. O medo do sujeito de ser abandonado é negado pela fantasia inconsciente de controle onipotente sobre o objeto.A criança despreza o objeto, isolando o sofrimento ante a sua possível perda.
Dentre as formas de reparação menos maduras, Melanie descreve a de cunho onipotente, a então chamada de posição Maníaca (1935), além da reparação obsessiva descrita em 1932. Nos seus textos , existe uma mudança do termo de posição para defesa maníaca em 1940. Em 1950, encontra-se essa mudança de terminologia nas traduções dos textos originais de Melanie. O termo posição parece ter influência dos escritos de Abraham de estados Depressivos, indicando algo mais amplo. Já o termo defesa parece mais influenciado pelos conceito de defesa de Freud.
No Vocabulário de Psicanálise de Laplanche e Pontalis, encontramos a definição de defesa como sendo um conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer modificação suscetível de colocar em perigo a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico.
Para Diana Rabinovich (2009), o termo posição é a forma particular em que se articulam nela os elementos: o tipo de angústia, o tipo de relação objetal, a estrutura do Eu e as defesas específicas em relação à angústia, ao objeto e a estrutura do Eu.
No meu entender o termo posição Maníaca seria mais complexo e mais adequado para descrever a abrangência deste modo do psiquismo operar. Seria uma posição intermediária entre a posição Esquizoparanóide e a Depressiva. Compreendendo assim a mesma mobilidade do conceito de posição.
Na posição maníaca já haveria um desenvolvimento maior do que na Esquizoparanóide, um ego mais fortalecido em relação ao objeto. Fazendo portanto parte do desenvolvimento normal da criança. Segundo Melanie, as duas posições, Maníaca e Depressiva, seriam finalizadas simultaneamente, quando a criança abandona as defesas obsessivas.
Jean-Michel Petot (1992) afirma que para Melanie Klein a posição Depressiva é a posição central do desenvolvimento da criança. É uma melancolia que a neurose infantil tem de elaborar. Ele cita nos escritos de Melanie (Essais Psychanalyse,1935):
“ a elaboração do Édipo e a da posição depressiva são confundidas e uma e outra supõem a oscilação entre posições maníaca e depressiva, às quais convém talvez acrescentar a posição obsessiva…..quando diminui a onipotência maníaca e a natureza obsessiva de suas tendências de reparação,isto significa, geralmente, que a neurose infantil foi superada.” ( p.16)
A posição Maníaca reúne defesas que tem por finalidade primordial e prevalecente de se opor a nostalgia do objeto. Na mania o ego procura evitar um estado paranóico que é incapaz de dominar, ao mesmo tempo que evita a melancolia . Através da onipotência do pensamento , da recusa , da reparação maníaca, da idealização, do sentimento de onipotência, a criança tenta controlar e dominar os objetos. Na sua fantasia tenta evitar o coito dos pais combinados, enquanto objeto interno. Com o sadismo imperando, a agressividade leva vantagem sobre a libido, e ao ataque a imagem unificada dos pais. Surgem então o ciúme, de ficar de fora da relação dos pais, e o medo de ter destruído todos esses objetos.
Outra característica da posição Maníaca é a utilização da recusa.O ego procura se destacar dos objetos, mas sem renunciar a eles. Recusa a importância dos seus objetos bons e do id. Na hiperatividade manifesta o desejo de controlar e dominar seus objetos.Nega a dependência do objeto pelo desdém e pela minimização.
A posição Maníaca se encontra na fase oral, ela se caracteriza pela introjeção de objetos bons. Devido ao acionamento da recusa, o ego pode praticar a introjeção ávida, se protegendo das ansiedades. Assim a recusa permite a manutenção de uma relação com o objeto bom. Através da fuga para o objeto bom, surge a necessidade da idealização desse objeto, se contraponto a desvalorização do objeto feito anteriormente pela recusa.
A idealização, portanto, não é somente patológica, mas também um passo intermediário necessário no desenvolvimento da criança. Segundo Melanie Klein (1935):
“A mãe idealizada é uma proteção contra a mãe vingativa ou uma mãe morta, e contra todos os objetos maus representando, portanto, a segurança e a própria vida. A exaltação maníaca está associada ao “sentimento de possuir no seu interior o objeto de amor perfeito (idealizado).” (p.20)
Em 1940, Melanie diz que a elação da mania tem um aspecto que vai além do gozo sem ansiedade. Para Klein, o desejo de controlar o objeto, a gratificação sádica de superá-lo e humilhá-lo, de ter vantagem sobre ele, podem romper o círculo bom da reparação. O triunfo se origina da rivalidade com os adultos enquanto tais, o que inspira na criança o desejo de ter sucesso como eles. Esse pensamento onipotente de triunfar sobre os pais irá gerar culpa o que impede o êxito e o sucesso , pois significaria humilhar ou ferir os outros. Esses outros seriam os pais ou os irmãos.
No entendimento de Jean-Michel Petot (1992),
” a emergência da posição depressiva completa, com nostalgia, culpa e desejo de reparação é posterior aos estados arcaicos do complexo de Èdipo, dominados pela fantasia dos pais combinados, e que correspondem a posição maníaca.” (p.25)
A partir desse entendimento dinâmico das posições apresentadas, podemos supor que na posição Esquizoparanóide os objetos são percebidos como parciais, um objeto bom ou um objeto ruim. Na posição Maníaca existem dois objetos, o pai ou a mãe separados. Na posição Depressiva existe a integração no mesmo objeto do bom e do ruim. E na elaboração do Complexo de Édipo os dois objetos, pai e mãe, formam um par.
Bibliografia
Laplanche,Jean e Pontalis, J.B. Vocabulário de Psicanálise.Livraria Martins Fontes Editora Ltda. SP.1992.
Petot, Jean-Michel. Melanie Klein.Volume 2. Editora Perspectiva.SP.1992.
Odgen, Thomas H. A matriz da Mente. Editora Edgar Blucher Ltda.SP. 2018.
Rabinovich, Diana S. O conceito de Objeto na teoria Psicanalítia.Companhia de Freud editora.RJ.2009.
Rudinesco,Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Jorge Zahar Editor ltda.RJ.1998.
Defesas Maníacas e/ou Posição Maníaca em Melanie Klein¹
Mariane Rohenkohl - Psicóloga²
A partir do estudo das relações objetais descritas por Thomas Ogden, mais especificamente da posição Depressiva, surgiu a necessidade do aprofundamento do tema pela visão de Jean- Michel Petot descrita no Livro Melanie Klein volume II. No estudo de Jean-Michel Petot, vimos o entendimento da posição Maníaca, termo mais conhecido para as posições Esquizoparanóide e Depressiva. O estudo desse conceito se mostrou muito importante no atendimento clínico diário, de pacientes maníacos, bipolares, obesos mórbidos, dependentes químicos, borderline e psicóticos,bem como no entendimento do desenvolvimento normal.
Primeiramente vamos rever o conceito de posição. Segundo Elisabeth Rudinesco (1998), Melanie Klein rejeitou a palavra inglesa phase (estádio|fase|) desde seus primeiros trabalhos, em favor da palavra posição. A palavra fase pressupõe um começo, um fim e uma suspensão definitiva do estado descrito, já a palavra posição coloca que o estado intervém num dado momento da existência do sujeito, num estágio preciso do desenvolvimento, podendo repetir-se depois em certas etapas da vida.
O termo posição exprime para mim a ideia de movimento, onde a criança muda de atitude ou desloca sua posição quanto a sua relação com o objeto, ou seja , ela se posiciona de diferentes formas frente aos objetos interno ou externos, em momentos diferentes do seu desenvolvimento, podendo voltar a posições anteriores.
Em 1934, durante a conferência intitulada de “Uma contribuição à Psicogênese dos Estados Maníacos-depressivos”, Melanie introduz o conceito de posição Depressiva e ao mesmo tempo o conceito de objeto bom e objeto mau. Seus estudos estavam baseados nos estudos de Freud sobre Luto e Melancolia , e nos de Karl Abraham sobre Depressão Primária, e sobre os Estados Maníacos e Depressivos. Na mesma época em que lança estes conceitos psicanalíticos que a introduziram no estudo mais aprofundado das psicoses, Melanie vivenciava o luto pela perda de um filho.
A posição Depressiva faz uma analogia entre o desenvolvimento normal da criança com os estados de depressão. Na fase de desenvolvimento correspondente aos 4 meses idade, a criança introjeta no Eu um objeto suficientemente bom para superar o estado persecutório próprio da perda da mãe como objeto parcial. A psicose seria oriunda da dificuldade da criança em ver a mãe como um objeto total, ou ainda de fazer uso da clivagem dela em objetos bom e mau. A criança, caso consiga superar esse estado de destruição do Eu pela resolução da posição depressiva , se fixaria na neurose ao invés da psicose.
Em 1946, Klein adota de Ronald Fairbain o termo de posição Esquizoparanóide para descrever a clivagem original do Eu, passando da teoria do Eu para a psicologia do Self, ampliando assim os conceitos da Clínica Psicanalítica. Destaca a coexistência na posição Esquizoparanóide de uma clivagem esquizofrênica e de uma angústia persecutória.
Segundo Ogden (2017) , a posição Esquizoparanóide é um modo gerador de experiência impessoal e automático:
“ Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self por meio da identificação projetiva…...é um estado não reflexivo do ser; os pensamentos e sentimentos do sujeito são eventos que meramente ocorrem.”(p 78)
Essa posição Esquizoparanóide não é abandonada na posição Depressiva. O pensamento de Melanie sempre é dialético, entre o bem e o mal, entre a posição Esquizoparanóide e a posição Depressiva. Esse relacionamento entre as duas posições onde cada qual cria, preserva e nega o outro, ocorre da mesma forma como se percebe no pensamento Freudiano os conceitos de mente consciente e inconsciente.
Após o primeiro trimestre de vida, a criança começa a funcionar no modo da posição Depressiva, em algum grau. Esse modo permanece em desenvolvimento contínuo ao longo de toda a vida, e simultaneamente ocorre a operação do modo da posição Esquizoparanóide.
Os fatores maturacionais que ocorrem no desenvolvimento da criança a partir do quarto mês de vida, diminuem a intensidade do instinto, havendo um desdobramento das capacidades cognitivas, estabilizando a capacidade do teste de realidade e a memória. Isso associado à experiência com um objeto bom, permite a integração dos objetos parciais da posição Esquizoparanóide. Propiciam ao bebê o aumento da capacidade de vinculação e de amar, diminuindo o medo dos objetos maus. Ou seja, essa diminuição do medo dos objetos maus faz com que eles não precisem mais ser expulsos violentamente pela projeção e pela identificação projetiva. Consequentemente, os objetos bons e ruins não precisam mais ficar separados.
O medo da perda do objeto vivenciado como inteiro e independente, provoca uma ansiedade depressiva, que desperta um fenômeno intermediário que incorpora elementos da organização psíquica das duas posições, a Esquizoparanóide e a Depressiva. Como características da posição Esquizoparanóide podemos citar a clivagem, a negação, a projeção, a introjeção,a idealização, a identificação projetiva e o pensamento onipotente.
Para Melanie Klein (1935) as formas que as defesas assumem combinam tanto elementos externos internalizados ou submetidos a tentativas de controle, quanto aos elementos pulsionais.
No momento que a criança começa a consolidar a organização psicológica da posição Depressiva, as defesas maníacas fazem parte das defesas utilizadas pelo ego para lidar com a ansiedade.
Em Melanie Klein (1935) as ansiedades pertinentes ao ego conhecidas como do temor a talião, são paranóides, e as que revelam a presença da preocupação com o objeto, são as ansiedades depressivas. Segunda a autora, o ingresso na fase Depressiva coincide com o apogeu do sadismo na criança, fazendo com que as manifestações de compaixão e empatia entrelaçam-se com os ataques imaginários mais cruéis.
A ansiedade só é depressiva quando o ego reconhece que a fonte de destruição está nele mesmo, sendo intencional, ou seja, seu próprio ódio é que ameaça o objeto. Para Jean-Michel Petot (1992) “ A ilusão da inocência é incompatível com a posição depressiva”.(p.9)
A culpa seria originária do aprofundamento da consciência da realidade psíquica ambivalente. Através da identificação empática com o objeto odiado e atacado, a criança suscita compaixão, remorso, arrependimento e o desejo de reparação. Nessa reparação repousam o amor e a sublimação.
Thomas Ogden (2018) coloca que a instabilidade na posição depressiva (onde ocorre a integração dos objetos bons e ruins) , faz com que a criança frequentemente utilize uma forma de defesa chamada de processo ou defesa Maníaca. No processo Maníaco, o sujeito regride a um estado do ser no qual a subjetividade, a historicidade, a experiência de realidade psíquica, a capacidade de formação simbólica madura, se encontram muito comprometidas.
Segundo Klein (1935), a defesa maníaca envolve a negação do indivíduo acerca da sua dependência de outras pessoas. O medo do sujeito de ser abandonado é negado pela fantasia inconsciente de controle onipotente sobre o objeto.A criança despreza o objeto, isolando o sofrimento ante a sua possível perda.
Dentre as formas de reparação menos maduras, Melanie descreve a de cunho onipotente, a então chamada de posição Maníaca (1935), além da reparação obsessiva descrita em 1932. Nos seus textos , existe uma mudança do termo de posição para defesa maníaca em 1940. Em 1950, encontra-se essa mudança de terminologia nas traduções dos textos originais de Melanie. O termo posição parece ter influência dos escritos de Abraham de estados Depressivos, indicando algo mais amplo. Já o termo defesa parece mais influenciado pelos conceito de defesa de Freud.
No Vocabulário de Psicanálise de Laplanche e Pontalis, encontramos a definição de defesa como sendo um conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer modificação suscetível de colocar em perigo a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico.
Para Diana Rabinovich (2009), o termo posição é a forma particular em que se articulam nela os elementos: o tipo de angústia, o tipo de relação objetal, a estrutura do Eu e as defesas específicas em relação à angústia, ao objeto e a estrutura do Eu.
No meu entender o termo posição Maníaca seria mais complexo e mais adequado para descrever a abrangência deste modo do psiquismo operar. Seria uma posição intermediária entre a posição Esquizoparanóide e a Depressiva. Compreendendo assim a mesma mobilidade do conceito de posição.
Na posição maníaca já haveria um desenvolvimento maior do que na Esquizoparanóide, um ego mais fortalecido em relação ao objeto. Fazendo portanto parte do desenvolvimento normal da criança. Segundo Melanie, as duas posições, Maníaca e Depressiva, seriam finalizadas simultaneamente, quando a criança abandona as defesas obsessivas.
Jean-Michel Petot (1992) afirma que para Melanie Klein a posição Depressiva é a posição central do desenvolvimento da criança. É uma melancolia que a neurose infantil tem de elaborar. Ele cita nos escritos de Melanie (Essais Psychanalyse,1935):
“ a elaboração do Édipo e a da posição depressiva são confundidas e uma e outra supõem a oscilação entre posições maníaca e depressiva, às quais convém talvez acrescentar a posição obsessiva…..quando diminui a onipotência maníaca e a natureza obsessiva de suas tendências de reparação,isto significa, geralmente, que a neurose infantil foi superada.” ( p.16)
A posição Maníaca reúne defesas que tem por finalidade primordial e prevalecente de se opor a nostalgia do objeto. Na mania o ego procura evitar um estado paranóico que é incapaz de dominar, ao mesmo tempo que evita a melancolia . Através da onipotência do pensamento , da recusa , da reparação maníaca, da idealização, do sentimento de onipotência, a criança tenta controlar e dominar os objetos. Na sua fantasia tenta evitar o coito dos pais combinados, enquanto objeto interno. Com o sadismo imperando, a agressividade leva vantagem sobre a libido, e ao ataque a imagem unificada dos pais. Surgem então o ciúme, de ficar de fora da relação dos pais, e o medo de ter destruído todos esses objetos.
Outra característica da posição Maníaca é a utilização da recusa.O ego procura se destacar dos objetos, mas sem renunciar a eles. Recusa a importância dos seus objetos bons e do id. Na hiperatividade manifesta o desejo de controlar e dominar seus objetos.Nega a dependência do objeto pelo desdém e pela minimização.
A posição Maníaca se encontra na fase oral, ela se caracteriza pela introjeção de objetos bons. Devido ao acionamento da recusa, o ego pode praticar a introjeção ávida, se protegendo das ansiedades. Assim a recusa permite a manutenção de uma relação com o objeto bom. Através da fuga para o objeto bom, surge a necessidade da idealização desse objeto, se contraponto a desvalorização do objeto feito anteriormente pela recusa.
A idealização, portanto, não é somente patológica, mas também um passo intermediário necessário no desenvolvimento da criança. Segundo Melanie Klein (1935):
“A mãe idealizada é uma proteção contra a mãe vingativa ou uma mãe morta, e contra todos os objetos maus representando, portanto, a segurança e a própria vida. A exaltação maníaca está associada ao “sentimento de possuir no seu interior o objeto de amor perfeito (idealizado).” (p.20)
Em 1940, Melanie diz que a elação da mania tem um aspecto que vai além do gozo sem ansiedade. Para Klein, o desejo de controlar o objeto, a gratificação sádica de superá-lo e humilhá-lo, de ter vantagem sobre ele, podem romper o círculo bom da reparação. O triunfo se origina da rivalidade com os adultos enquanto tais, o que inspira na criança o desejo de ter sucesso como eles. Esse pensamento onipotente de triunfar sobre os pais irá gerar culpa o que impede o êxito e o sucesso , pois significaria humilhar ou ferir os outros. Esses outros seriam os pais ou os irmãos.
No entendimento de Jean-Michel Petot (1992),
” a emergência da posição depressiva completa, com nostalgia, culpa e desejo de reparação é posterior aos estados arcaicos do complexo de Èdipo, dominados pela fantasia dos pais combinados, e que correspondem a posição maníaca.” (p.25)
A partir desse entendimento dinâmico das posições apresentadas, podemos supor que na posição Esquizoparanóide os objetos são percebidos como parciais, um objeto bom ou um objeto ruim. Na posição Maníaca existem dois objetos, o pai ou a mãe separados. Na posição Depressiva existe a integração no mesmo objeto do bom e do ruim. E na elaboração do Complexo de Édipo os dois objetos, pai e mãe, formam um par.
Bibliografia
Laplanche,Jean e Pontalis, J.B. Vocabulário de Psicanálise.Livraria Martins Fontes Editora Ltda. SP.1992.
Petot, Jean-Michel. Melanie Klein.Volume 2. Editora Perspectiva.SP.1992.
Odgen, Thomas H. A matriz da Mente. Editora Edgar Blucher Ltda.SP. 2018.
Rabinovich, Diana S. O conceito de Objeto na teoria Psicanalítia.Companhia de Freud editora.RJ.2009.
Rudinesco,Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Jorge Zahar Editor ltda.RJ.1998.
Defesas Maníacas e/ou Posição Maníaca em Melanie Klein¹
Mariane Rohenkohl - Psicóloga²
A partir do estudo das relações objetais descritas por Thomas Ogden, mais especificamente da posição Depressiva, surgiu a necessidade do aprofundamento do tema pela visão de Jean- Michel Petot descrita no Livro Melanie Klein volume II. No estudo de Jean-Michel Petot, vimos o entendimento da posição Maníaca, termo mais conhecido para as posições Esquizoparanóide e Depressiva. O estudo desse conceito se mostrou muito importante no atendimento clínico diário, de pacientes maníacos, bipolares, obesos mórbidos, dependentes químicos, borderline e psicóticos,bem como no entendimento do desenvolvimento normal.
Primeiramente vamos rever o conceito de posição. Segundo Elisabeth Rudinesco (1998), Melanie Klein rejeitou a palavra inglesa phase (estádio|fase|) desde seus primeiros trabalhos, em favor da palavra posição. A palavra fase pressupõe um começo, um fim e uma suspensão definitiva do estado descrito, já a palavra posição coloca que o estado intervém num dado momento da existência do sujeito, num estágio preciso do desenvolvimento, podendo repetir-se depois em certas etapas da vida.
O termo posição exprime para mim a ideia de movimento, onde a criança muda de atitude ou desloca sua posição quanto a sua relação com o objeto, ou seja , ela se posiciona de diferentes formas frente aos objetos interno ou externos, em momentos diferentes do seu desenvolvimento, podendo voltar a posições anteriores.
Em 1934, durante a conferência intitulada de “Uma contribuição à Psicogênese dos Estados Maníacos-depressivos”, Melanie introduz o conceito de posição Depressiva e ao mesmo tempo o conceito de objeto bom e objeto mau. Seus estudos estavam baseados nos estudos de Freud sobre Luto e Melancolia , e nos de Karl Abraham sobre Depressão Primária, e sobre os Estados Maníacos e Depressivos. Na mesma época em que lança estes conceitos psicanalíticos que a introduziram no estudo mais aprofundado das psicoses, Melanie vivenciava o luto pela perda de um filho.
A posição Depressiva faz uma analogia entre o desenvolvimento normal da criança com os estados de depressão. Na fase de desenvolvimento correspondente aos 4 meses idade, a criança introjeta no Eu um objeto suficientemente bom para superar o estado persecutório próprio da perda da mãe como objeto parcial. A psicose seria oriunda da dificuldade da criança em ver a mãe como um objeto total, ou ainda de fazer uso da clivagem dela em objetos bom e mau. A criança, caso consiga superar esse estado de destruição do Eu pela resolução da posição depressiva , se fixaria na neurose ao invés da psicose.
Em 1946, Klein adota de Ronald Fairbain o termo de posição Esquizoparanóide para descrever a clivagem original do Eu, passando da teoria do Eu para a psicologia do Self, ampliando assim os conceitos da Clínica Psicanalítica. Destaca a coexistência na posição Esquizoparanóide de uma clivagem esquizofrênica e de uma angústia persecutória.
Segundo Ogden (2017) , a posição Esquizoparanóide é um modo gerador de experiência impessoal e automático:
“ Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self por meio da identificação projetiva…...é um estado não reflexivo do ser; os pen